Por Herval Sampaio Júnior
E agora o que fazer?
No último dia 19 não acreditei quando vi, inicialmente, a notícia de que o nome do Ministro Teori Zavaski estava como passageiro do avião que caiu e muito menos quando terminei uma reunião de trabalho, em que sua morte foi confirmada, vindo-me no pensamento a exclamação supra: oh Brasil sem sorte!,
Para ouvir a entrevista na íntegra!
Nesse primeiro momento em que temos o fato como uma tragédia que abalou todo o povo brasileiro e não só os seus colegas de profissão, como o signatário desse texto, a exclamação é mais do que oportuna, pois perdemos um magistrado que cumpria ao mesmo tempo as atribuições técnicas de seu cargo, com todo o louvor da função, assegurando a todos o chamado devido processo legal, sem se deixar levar por qualquer outro interesse senão o de ver a lei cumprida e ainda se portou como um baluarte na luta contra a corrupção.
E como conseguiu isso, sendo magistrado?
Sendo simples, discreto e cortês com todos, sem que a marca de sua performance na aplicação da lei de forma técnica e efetiva deixasse de prevalecer, o que nos deu a esperança de que finalmente os poderosos corruptos desse país fossem para a cadeia, incluindo os políticos da mais alta cúpula.
E será que sua morte levou toda a nossa esperança?
Eis a questão, pois poucas vezes na vida tive dificuldade de cumprir uma missão a mim imposta e no dia de ontem, sinceramente, foi muito duro ter que falar dessa perda em entrevista na Rádio Justiça, em que atuo como colaborador há muito tempo, tendo participação semanal em programa, e convidado pela produção para falar sobre o Ministro, a emoção me pegou, mas deixei claro o que pensava sobre esse grande homem público, que nos deixa um legado de serenidade, firmeza e principalmente retidão no cumprimento da difícil missão de julgar.
Como conseguiremos um novo Teori?
É justamente isso que nos intriga nesse momento, pois precisamos desse perfil para continuar o curso desse processo da Lava Jato, já que o destino nos pregou uma peça. Como imaginar que o Ministro que em tese homologaria várias delações premiadas em que mais de duzentos políticos são citados, incluindo o atual Presidente da República, um dia depois de passar pelo STF para orientação a seus assessores, morre em um “acidente” de avião.
E coloquei a expressão acidente entre aspas de propósito, pois mesmo imaginando, por enquanto, que realmente não tivemos sorte, tendo sido uma fatalidade, por outro lado, não podemos deixar de investigar a fundo esse fato que de forma impressionante favorece a muitos corruptos de nosso país, justamente em um momento como o que atravessamos.
O povo se encontra consternado e apreensivo com o que acontecerá a partir de agora, logo as autoridades envolvidas nesse processo de transição devem ouvir o sentimento popular e o mais rápido possível definir a situação.
Pensamos que a Presidente deve seguir o precedente quando da morte do Ministro Menezes Direito, em que o então Ministro Presidente Gilmar Mendes resolveu aplicar o artigo 68 do regimento interno do STF e pela questão urgencial que move o processo da Lava Jato, em especial a necessidade de que não haja solução de continuidade na ouvida dos delatores e a consequente homologação de tais depoimentos, impulsionando o processo, de modo que a memória do Ministro seja lembrada pela atuação serena e firme como sua Excelência conduzia os processos que se encontravam sob a sua presidência.
E para a sua substituição definitiva, Michel Temer que é citado recorrente vezes nas delações, terá que ter uma posição republicana ao escolher uma pessoa isenta, na qual poderá ser decisiva, se for o caso, para a sua condenação, pois o mesmo está sendo acusado de ter participado dessas negociações espúrias de desvio de dinheiro público pelas empreiteiras, que por muito anos ganharam vários contratos administrativos, justamente para manter essa politicagem que tem total interesse na nomeação de um amigo que possa ser conivente com essas roubalheiras.
Será que o povo terá estômago como se diz para aguentar uma cacetada dessa?
Espero que não, daí minha esperança de que o Presidente da República não ousará indicar ninguém ligado a sua pessoa, por mais que tenha notável saber jurídico, já que o momento e o acontecido exigem uma postura totalmente diferente das nomeações de outrora, em que outros critérios prevaleceram.
Sei da dificuldade que teremos em encontrar um novo Teori, daí o motivo maior de nossa tristeza, além da perda humana em um trágico “acidente”, mas a busca deve ser nesse sentido, pois precisamos mudar o curso do destino, dando ao povo brasileiro a continuidade da esperança de que os corruptos irão para a cadeia, independentemente da qualidade de serem poderosos, ricos, políticos, enfim o que forem, pois todos que ousarem burlarem a lei, matando pessoas com o desvio de dinheiro público, devem ir para o caótico sistema penitenciário brasileiro.
E o ministro que partiu nos dava a certeza de que se houvesse prova dos atos ilícitos, os corruptos seriam punidos e isso o povo gostou demais, logo nos tomar essa expectativa é o que nos entristece no momento, daí rogamos as autoridades competentes que façam com que esse “acidente” não seja sentido mais do que o momento atual de dor que sentimos, pois o Ministro ficará muito feliz em ver aonde estiver que o seu trabalho não será perdido e pelo contrário o seu legado estará sendo concretizado Brasil afora.
Finalizo esse pequeno texto em homenagem a um homem público diferenciado e que honrou a toga que vestiu por toda a sua brilhante carreira com o sentimento de tristeza, mas ao mesmo tempo regozijado como magistrado, já que o seu legado cada vez mais será incorporado a minha atuação profissional e como lutador incansável contra a corrupção, que me orgulho de me postar como cidadão, também recebo o exemplo para continuar firme nossa luta.
Rogamos então com a força do povo e pedindo a Deus e as autoridades, que dentro do possível, nos seja dado um novo Teori, pois é esse o perfil de magistrado que precisamos para que os corruptos de nosso país sintam a força da lei e, por conseguinte paguem com o rigor da mesma pelos seus atos.
Que o novo Teori concretize o legado do saudoso Teori, pois este não morreu e estará presente em cada um dos brasileiros que não mais aguentam conviver com os corruptos assassinos desse Brasil, por enquanto, sem sorte!