Desde o dia 15 de junho o Hemocentro, na cidade de Mossoró, já está recebendo doações de sangue de pessoas que fazem parte da comunidade LGBTQIA+.
A restrição à doação de sangue foi declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal no dia 8 de maio, mas o Ministério da Saúde só orientou as secretaria estaduais a receberem a doação neste mês de junho.
O MOSSORÓ HOJE conversou nesta terça-feira (23) com o hematologista e hemoterapêuta do Hemocentro, André Aleixo Hipólito.
Ele explicou que após a liberação das doações pelo Ministério da Saúde não há mais restrições quanto a “grupos de risco”, porém se mantém o que se chama de “comportamento de risco”, que se aplica a todos os doadores.
A questão é discutida por meio do questionário ao qual o voluntário se submete antes da doação. Um dos comportamentos que podem impedir a doação é a prática de relações sexuais com múltiplos parceiros.
“Todos os doadores são bem vindos, o que é importante é ter ciência de que essa doação vai ser para um bem de uma outra pessoa, portanto ter autodiscernimento de que, se porventura se submeteu a relações múltiplas com vários parceiros, dizer durante a entrevista para que a gente só faça a doação de pessoas que sejam realmente saudáveis e que não coloquem em risco o paciente que já é acometido por uma doença”, explica.
O Assistente Administrativo Paulo Arthur Nogueira explica que sempre teve vontade de doar, mas sabia que era impossibilitado pela restrição.
“Sempre tive [vontade de doar]. Antes eu era magro e não tinha o peso. Depois que consegui passar o peso e tinha todas as chances de doar, fui impossibilitado por eu ser gay. Tinha vontade de doar mas me era orientado mentir. Eu não mentia porque muitas pessoas sofrem por não se aceitarem como pessoas lgbt e não há motivo pra esconder quem eu sou” explica.
Ele conta que o noivo dele tentou realizar uma doação para uma pessoa que estava com câncer e precisando de doações urgentes, mas foi impedido quando questionado se já havia tido relações sexuais com homens.
“A primeira coisa que perguntaram foi se ele teve recentemente relações sexuais com homem? Qual sua orientação? E ele disse “sou gay”, então disseram que não podia fazer a doação e não realizaram nenhum exame. Só perguntaram se ele era gay e ele disse que não tinha motivos para mentir. Por isso não conseguiu doar para uma pessoa com câncer que estava precisando”, disse.
Paulo acredita que este seja um avanço muito importante na luta contra o preconceito. “Além de poder ajudar outras vidas, é um passo importante pra comunidade, vencer mais essa barreira de preconceito por parte de que pessoas lgbtqia+ são promíscuas ou sem valor”.
ESTOQUE DE SANGUE
O médico André Aleixo Hipólito diz que no momento o estoque de sangue está em um nível considerado bom, mas que continua reforçando a necessidade de que as pessoas procure o Hemocentro e realizem suas doação para que não faltem bolsas para os procedimento.
“Nesse período de pandemia nós estivemos em situações bem cítricas, mas agora estamos com níveis um pouco superiores. Continuamos precisando de doadores para repor esse estoque e principalmente os doadores direcionados a pessoas que vão passar por procedimentos cirúrgicos”, diz.
Segundo Dr. André, os tipos sanguíneos que possuem um déficit maior são o A- e O-, que no momento estão com menor estoque.
As bolsa coletadas são utilizadas principalmente em pacientes de urgência, pacientes de UTI, de Hemodiálise, na oncologia e nas maternidades.
CRITÉRIOS PARA DOAÇÃO DE SANGUE
Critérios específicos relacionados à Covid-19:
- Caso tenha tido contato com pessoa diagnosticada com Covid-19, aguardar o prazo de 14 dias para realizar a doação.
- Caso tenha sido diagnosticado com a doença, deve aguardar o prazo de 30 dias após a liberação médica para procurar o hemocentro.
Critérios gerais:
- Estar em boas condições de saúde;
- Estar bem alimentado;
- Ter entre 16 e 69 anos (entre 16 e 17 devem estar acompanhados dos responsáveis);
- Pesar mais de 50 kg;
- Não tomar medicamentos que possam afetar a saúde;
- Não ter contraído hepatite após os 11 anos
- Não ter feito cirurgia recente;
- Não ter feito tatuagem ou colocado piercing nos 12 meses que antecederem a doação;
- Apresentar documento original, com foto, no dia da doação.