Nesta terça-feira (12) é comemorado o Dia do Enfermeiro, um profissional que anda muito comentado devido ao seu papel fundamental frente à pandemia do novo coronavírus.
O MOSSORÓ HOJE conversou com a Doutora em Enfermagem e Professora Ana Paula Nunes sobre a valorização da profissão e os desafios que esses profissionais vêm enfrentando na batalha contra a Covid-19.
Ana Paula é professora de enfermagem e enfermeira do pronto-socorro do Hospital Regional Tarcísio Maia, em Mossoró.
Ao falar sobre os desafios da profissão, ela lembra que, historicamente, a categoria não é valorizada como deveria e que essa crise provocada pelo coronavírus veio somar aos desafios diários que os profissionais de enfermagem têm enfrentado ao longo dos anos.
“A enfermagem é, historicamente, uma profissão arraigada por muitos desafios, dentre eles destacam-se: falta de prestígio social, desvalorização, falta de um piso salarial ou de uma jornada de trabalho digna”, diz ela, acrescentando que “é como se hoje a gente pudesse ver os nossos "velhos" desafios, escancarados de forma gritante, pois além dos riscos já inerentes a nossa profissão, estamos diante de um inimigo invisível e com uma taxa de contágio alarmante. Então o medo vai muito além de nos contaminar, mas também de contaminar os nossos familiares”.
A enfermeira explica que, para o profissional de saúde, é muito frustrante ver as pessoas na ruas, desobedecendo as orientações, em um momento em que há diversos profissionais nos hospitais, arriscando suas vidas e batalhando pela vida dos pacientes.
“Os profissionais de saúde estão exaustos, abalados psicologicamente, cansados de se paramentar e desparamentar, machucados pelos EPI´s, isolados da sua família... enquanto a população, que só precisa ficar em casa, não consegue atender as recomendações básicas. Entendo que muitos buscam o seu sustento, mas vejo que muitas pessoas se deslocam sem necessidade”.
Questionada se possui amigos da profissão que foram contaminados pela doença, ela disse que sim, apesar de todos os cuidados praticados por eles.
“Temos a maior cautela em prestar assistência e ainda assim temos sido vítimas dos vírus. Uma simples saída de um plantão, para muitos de nós virou um ritual”, explica.
Ana Paula conta que atuou na linha de frente do combate ao coronavírus até o início de abril, no HRTM, mas que precisou ser afastada do trabalho por fazer parte do grupo de risco da doença.
“Por ser obesa de grau elevado, seria um soldado facilmente abatido. Mas segui exercendo meu papel de docente e participando de atividades atreladas a educação. O HRTM tem profissionais de enfermagem incríveis, dentro das circunstâncias a enfermagem de lá tem se destacado no manejo a esses pacientes”, conta.
Ana Paula diz que é visível que os enfermeiros têm feito toda a diferença neste momento e que acredita que, a partir de agora, a profissão seja vista com um olhar diferenciado pelo público.
“Eu creio que sairemos maiores e mais fortes dessa, além de reconhecidos por nossa importância e capacidade técnico-científica. Somos a ciência do cuidado e por meio dela fazemos a diferença na vida de todos”.
O MOSSORÓ HOJE perguntou a enfermeira sobre o que ela gostaria de dizer aos seus pares, neste dia dedicado a eles, e aos leitores do Portal. Ana reforçou que as pessoas devem ficar em casa para que o sistema de saúde tenha condições de cuidar de todos e pediu, mais uma vez, que valorizem a profissão.
“Eu gostaria de mandar uma mensagem positiva e de fé que tudo isto vai passar. Aproveito e peço apoio a população pois nós amamos os aplausos, mas precisamos de mais, mais valorização, melhores condições de trabalho e precisamos ser apoiados nas nossas causas. Podemos ser vistos como heróis, mas somos profissionais que desempenhamos nossa função pelo outro. A enfermagem desempenha um papel fundamental no serviço, sem enfermagem não há um único processo de saúde sequer. Somos a maior força de trabalho em saúde do Brasil e precisamos ser vistos com esse olhar de importância”, concluiu.