Os resultados do Leilão de Transmissão 4/2025 da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) foram divulgados nesta sexta-feira (31), confirmando um aporte total estimado em R$ 5,53 bilhões para obras de linhas e subestações em 12 estados brasileiros. No Rio Grande do Norte, o investimento previsto ultrapassa R$ 805 milhões, com geração estimada de 2.299 empregos diretos e indiretos.
Embora o resultado represente um avanço importante para o sistema elétrico nacional, o Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (CERNE) avalia que o país demorou a agir diante de um problema que já ameaça a sustentabilidade e a previsibilidade do setor. O chairman do CERNE, Jean Paul Prates, destacou que o certame traz um alívio necessário aos geradores de energia renovável, mas reforçou que a medida é tardia frente à gravidade da situação.
“Apesar de ainda considerar que esse leilão demorou demais para ser organizado e anunciado, é evidente que ele poderá trazer alívio à situação crítica em que se encontram os geradores de energia renovável, principalmente na nossa região”, afirmou Jean Paul Prates.
O leilão é visto como um passo essencial para mitigar o curtailment — os cortes obrigatórios na geração de energia renovável por falta de capacidade de escoamento. No Nordeste, o problema tem se intensificado, levando ao desperdício de energia limpa e à perda de competitividade de parques eólicos e solares.
As obras abrangem a construção e modernização de 1.081 km de linhas de transmissão, além da instalação de subestações com cerca de 2.000 MW de capacidade de transformação.
No Rio Grande do Norte, o Lote 7, arrematado pela Axia Energia (antiga Eletrobras CGT Eletrosul), prevê a implantação de dois empreendimentos estratégicos:
- Subestação 500 kV Açu III – Compensações Síncronas 2 × (-200/+300) Mvar;
- Subestação 500 kV João Câmara III – Compensação Síncrona 1 × (-200/+300) Mvar.
- O Lote 7 foi dividido em dois sublotes:
- Lote 7A: oferta vencedora de R$ 48,2 milhões, com deságio de 44,81% sobre a RAP prevista de R$ 87,3 milhões, e investimento previsto de R$ 536,5 milhões;
- Lote 7B: oferta vencedora de R$ 23,7 milhões, com deságio de 45,79% sobre a RAP prevista de R$ 43,7 milhões, e investimento previsto de R$ 268,5 milhões.
Os empreendimentos contribuirão para o aumento da capacidade de transmissão no estado, com implantação de compensadores síncronos e reforço da estabilidade elétrica. As obras devem ser concluídas em até 42 meses.
Para o presidente do CERNE, Darlan Santos, a expansão da transmissão precisa ser acompanhada por uma estratégia integrada que una geração e consumo local, ampliando o aproveitamento da energia limpa e fortalecendo a economia regional.
“A atração de investimentos numa política regional de desenvolvimento, associada a cadeias de valor na região Nordeste se configura como um possibilidade real frente a alta demanda de energia renovável associada a setores eletrointensivos. A região do Brasil Equatorial pode estar na vanguarda para a implementação de cadeias verdes, agregando investimentos e empregos na região.”
Segundo o CERNE, a ampliação da rede de transmissão cria as condições necessárias para consolidar o Nordeste como polo de industrialização verde, atraindo segmentos como data centers, hidrogênio verde e metalurgia de baixo carbono, e integrando o potencial energético da região à nova economia de baixo carbono.
Encerrando sua análise, Jean Paul Prates destacou a importância de um olhar estruturante sobre o futuro do setor elétrico e alertou para a urgência de medidas que garantam previsibilidade e segurança jurídica aos empreendedores.
“Esperemos que o Ministério e as demais entidades reguladoras do setor elétrico agora se debrucem sobre as condições e compensações referentes aos cortes em contratos firmes de geração e na sua receita esperada. Os empreendimentos estão praticamente arruinados e, se isso persistir, haverá ainda mais choro e ranger de dentes nos nossos estados, com demissões e retrocessos socioambientais incalculáveis”, concluiu.