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MOSSORÓ
WILLIAM ROBSON - ESPECIAL PARA O MOSSORÓ HOJE
15/04/2019 17:46
Atualizado
22/04/2019 15:28

A contenção de gastos da prefeitura: o carnaval e Wesley Safadão

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"Se considerarmos as razões impeditivas do primeiro evento, como a de "conter gastos e direcionar investimentos para serviços essenciais como o pagamento da folha do funcionalismo", emerge uma dúvida: o Mossoró Cidade Junina é importante, porém é essencial? E se é essencial diante de tantas garrafas sem tampa, necessita de uma contratação de R$ 385 mil, como aponta o Blog do Barreto, afora as atrações satélites?", pergunta o jornalista William Robson
Imagem 1 -  Rosalba aproveita uma "pechincha" e contrata o forrozeiro Wesley Safadão para o Mossoró Cidade Junina, em meio à crise que ela anunciou para não investir no carnaval
Rosalba aproveita uma "pechincha" e contrata o forrozeiro Wesley Safadão para o Mossoró Cidade Junina, em meio à crise que ela anunciou para não investir no carnaval
Divulgação

Mossoró nunca teve tradição para carnaval, exceto nos saudosos bailes de clubes elitistas em meados do século passado. Noutra situação, quando se destacavam carnavalescos em meio ao deserto da folia que se seguia e que ano a ano se tornava recorrente. Chico Márcio e Valdecir Matias se alternavam como rei Momo. Algumas escolas de samba de ocasião aproveitavam o momento já em escassez de prestígio. O carnaval sobrevivia sob auxílio de aparelhos, com os recursos que a Prefeitura de Mossoró aplicava.

Como o carnaval em Mossoró esvaneceu sem o mossoroense sentir remorso, a prefeita Rosalba Ciarlini aproveitou para injetar uma política populista. Anunciou que a edição deste 2019 não seria realizada mediante os recursos do Executivo. Segundo a nota da assessoria na época, "a medida visava conter gastos e direcionar investimentos para serviços essenciais como o pagamento da folha do funcionalismo".

Rosalba ainda afirmou na ocasião: “Estamos anunciando que não será realizado carnaval em 2019 porque precisamos manter rigorosamente em dia o cronograma de pagamento do servidor, além de investir em programas para o homem do campo, como o Semear, que consiste na compra de sementes e óleo diesel para o corte de terra”.

A população aplaudiu. Evidentemente, a prefeitura precisa conter os recursos e, se é para cortar, que se corte do supérfluo. Muitos comentários nas redes sociais elogiaram a atitude da prefeitura, elevando, por um momento, a autoestima no Palácio da Resistência. Foi o momento em que a Prefeitura acreditou que o discurso seria o suficiente para colocar o eleitor mossoroense, o mesmo que enfrentou a fila de dobrar o quarteirão para a fantasiosa vaga de trabalho na Porcelanatti, no bolso. Afinal, a boa-fé do cidadão foi explorada em ambas as ocasiões.

Menos de dois meses após o anúncio sobre o carnaval, Rosalba aproveita uma "pechincha" e contrata o forrozeiro Wesley Safadão para o Mossoró Cidade Junina. Esta festa, instrumento eleitoral e social importante e gestada sob estruturas nababescas há mais de uma década, ganhou a simpatia do mossoroense. A ansiedade pelos festejos que, de fato, movimentam a cidade sob o ponto de vista econômico e turístico, invade o coração da maioria. Tratar da mesma forma que o carnaval realmente seria incoerente. A importância, incomparável sob todos os aspectos, não se equivale.

Mas, se considerarmos as razões impeditivas do primeiro evento, como a de "conter gastos e direcionar investimentos para serviços essenciais como o pagamento da folha do funcionalismo", emerge uma dúvida: o Mossoró Cidade Junina é importante, porém é essencial? E se é essencial diante de tantas garrafas sem tampa, necessita de uma contratação de R$ 385 mil, como aponta o Blog do Barreto, afora as atrações satélites? Alceu Valença e Elba Ramalho também estão na lista com cachês menores, só para frisar.

Por outro lado, como se comportaria o mossoroense se a prefeitura recorresse a uma modesta festa junina, sem grande pompa? Trataria como o carnaval, elogiaria a prefeitura e compreenderia a situação fiscal da cidade? É uma pergunta difícil de responder, quando sabemos que os mossoroenses contam os dias para a festança. No passado, houve até uma campanha voluntária nas redes sociais da qual se trocaria a verba destinada ao Cidade Junina para projetos voltados à saúde. Quando a festa começou, não se falava mais no assunto, nem no intercâmbio solidário.

O Mossoró Cidade Junina não deve ser desprezado, é patrimônio da cidade. Mas, se o argumento do controle dos gastos para serviços essenciais valer como desculpa para o carnaval (aporte este semelhante a troco de pinga, se comparado), não devemos matar a vaca por conta do carrapato. No entanto, ao que parece, o discurso de economizar no carnaval não se sustenta quando a festa subsequente não conta as moedas diante de uma cidade que lembra cenário de pós-guerra.

William Robson é jornalista, professor e músico. Doutorando em Jornalismo pela UFSC e Universitat Autònoma de Barcelona (UAB)


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