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NACIONAL
AGÊNCIA BRASIL
27/02/2019 11:20
Atualizado
27/02/2019 11:21

Nível de metais no Rio Paraopeba é 600 vezes maior que o permitido

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Relatório da Fundação SOS Mata Atlântica concluiu que o rio Paraopeba perdeu a condição de importante manancial de abastecimento público e usos múltiplos da água em razão das 14 toneladas de rejeitos de minérios arrastadas e depositadas nele, após o rompimento da barragem em Brumadinho.
Imagem 1 -  Segundo o relatório, 112 hectares de florestas nativas foram devastados por causa do arraste de rejeitos.
Segundo o relatório, 112 hectares de florestas nativas foram devastados por causa do arraste de rejeitos.
FOTO: ADRIANO MACHADO

O nível de cobre nas águas do rio Paraopeba chega a até 600 vezes acima do permitido a rios usados para abastecimento humano, irrigação em produção de alimento, pesca e atividades de lazer. 

O limite aceitável de cobre é 0,009mg/l (miligramas por litro), mas variou de 2,5 a 5,4mg/l nas 22 amostras recolhidas em uma expedição ao longo de 305 quilômetros do Paraopeba para relatório da Fundação SOS Mata Atlântica, divulgado nesta quarta-feira (27), em São Paulo.

A conclusão do documento é que o rio Paraopeba perdeu a condição de importante manancial de abastecimento público e usos múltiplos da água em razão das 14 toneladas de rejeitos de minérios arrastadas e depositadas nele.

O fato de deu devido ao rompimento da barragem do Complexo do Córrego do Feijão, da empresa Vale, localizada na zona rural de Brumadinho, em Minas Gerais.

Segundo o relatório, 112 hectares de florestas nativas foram devastados por causa do arraste de rejeitos após o rompimento da barragem em Brumadinho. Destes, 55 hectares eram áreas bem preservadas.

“Os metais que nós encontramos [no Paraopeba] que são ferro, cobre, manganês, são metais que não fazem mal à saúde em pequenas quantidades. A diferença entre o veneno e o remédio é a dosagem. Eles se tornaram tóxicos por conta da quantidade que temos na água, muito superior ao que é determinado por lei”, disse a bióloga Marta Marcondes, professora e coordenadora do Laboratório de Análise Ambiental do Projeto Índice de Poluentes Hídricos (IPH), da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS).

O consumo de quantidades relativamente pequenas de cobre pode provocar náuseas e vômitos, mas, se ingeridas em grandes doses, podem lesar os rins, inibir a produção de urina e causar anemia por causa da destruição de glóbulos vermelhos, segundo o relatório.

A bióloga explicou que altos níveis de cobre causam oxidação de vitamina A, o que provoca a redução de vitamina C no organismo. A falta dessa vitamina leva a dores musculares, fadiga, distúrbios de aprendizado e pode causar ou potencializar quadros de depressão.

“O cobre ocasiona muito o processo de depressão. Imagina uma pessoa que perdeu família e tudo que ela tinha, tem um acúmulo de cobre e já está em um processo depressivo, isso vai potencializar tudo isso”, argumentou.

Além de ferro, manganês e cobre, foi encontrado nível de cromo até 42 vezes maior do que o aceitável na legislação, que seria 0,05mg/l. Como consequência, o cromo pode causar até efeitos mutagênicos e morte.

“O cromo é um dos mais perigosos porque ele vai alterar a questão genética dos organismos e também pode afetar o sistema nervoso. Isso tudo com certeza vai alterar todo processo de homeostase – equilíbrio do organismo –, podendo ocasionar, por exemplo, lesões no sistema nervoso e doenças degenerativas”, disse Marta.

ALERTAS

O rio Paraopeba era responsável por 43% do abastecimento público da região metropolitana de Belo Horizonte.

Diante da impossibilidade de uso de suas águas por pelo menos 305 quilômetros, a SOS Mata Atlântica apelou para que a comunidade economize água, mesmo que o abastecimento esteja sendo realizado por afluentes que não foram contaminados, por cisternas e poços.

“Mesmo tendo outros rios, [é importante que] as pessoas economizem, porque a gente não sabe por quanto tempo não vai poder se utilizar a água do Paraopeba e quanto tempo esses outros rios têm condições de atender as necessidades dessas comunidades afetadas. É uma situação de emergência”, avaliou Malu Ribeiro, especialista em Recursos Hídricos da Fundação SOS Mata Atlântica.

Outra questão que requer atenção, segundo a especialista, é com a maior com proliferação de doenças que têm como vetores insetos – como a dengue, zika, chikungunya, febre amarela –, na região da bacia do Paraopeba.

“Porque, como a fauna que existia no ambiente do Paraopeba, os peixes, os anfíbios, os predadores dos insetos morreram, vai haver um aumento de insetos. E com isso aumenta o risco de doenças causadas por esses vetores”, advertiu, lembrando da vacinação e do cuidado no armazenamento de água.

O relatório hoje divulgado será entregue para a Câmara dos Deputados e Frente Parlamentar Ambientalista, visando alertar para que a legislação ambiental não seja flexibilizada; para Comitês de Bacia do Paraopeba e do São Francisco; e também a comunidades afetadas para que respondam dúvidas que ainda tenham.


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