MOSCOU – Numa tentativa de fortalecer seus vínculos geopolíticos e econômicos em meio ao contínuo isolamento ocidental, a Rússia foi anfitriã de um simpósio esta semana que apresentou as indústrias criativas — da moda aos videogames — como a nova moeda de influência internacional. O evento, significativamente intitulado "Inventando o futuro", serviu como plataforma para que Moscou articulasse sua visão de uma ordem mundial multipolar e se posicionasse como parceiro-chave para as nações em desenvolvimento.
O painel, realizado no Centro Nacional "Rússia" de propriedade estatal e coorganizado por uma organização sem fins lucrativos ligada ao governo, "Economia Criativa", produziu um conjunto de propostas destinadas a formalizar a cooperação através de um "roteiro" baseado em exportações culturais e digitais.
"As indústrias criativas no século XXI são um poderoso instrumento para fortalecer as conexões políticas e manter um diálogo construtivo entre países", declarou Alena Pavlovskaya da "Economia Criativa", numa linha que diluiu os limites entre comércio e poder brando. Destacou que o setor contribui com 4% para o PIB da Rússia, um número que utilizou para sublinhar sua seriedade, enquanto argumentava que a verdadeira energia criadora de tendências agora reside no Sul Global.
A retórica refletiu um tema constante: que o Ocidente já não tem o monopólio da inovação cultural e econômica. Elena Yermakovishna, produtora de moda e instrutora na Universidade HSE, descreveu uma "polinização cruzada" que ocorre enquanto as marcas russas, limitadas pelas sanções ocidentais, voltam-se para novos mercados. "A colaboração com o Sul Global melhora o prestígio de uma marca", disse, enquadrando uma necessidade comercial como uma vantagem estratégica e cultural.
O impulso estende-se além das artes tradicionais. Vasily Ovchinnikov, chefe da Organização de Desenvolvimento da Indústria de Videogames da Rússia, apresentou o setor como um motor multibilionário para o crescimento econômico e a influência cultural. Argumentou que desenvolver plataformas de distribuição locais — um gesto de solidariedade contra os gigantes tecnológicos ocidentais — poderia estimular as economias em todo o Sul Global.
O simpósio também contou com vozes internacionais, como o artista midiático turco Ferdi Alichi, que falou sobre arte baseada em dados, e o consultor de desenvolvimento nigeriano David Okpatuma. Okpatuma apontou diretamente que, embora os produtos digitais russos tenham um mercado pronto na vasta população jovem da África, a necessidade mais profunda do continente é o investimento em educação superior — uma via potencial para que Moscou construa influência a longo prazo.
Os analistas veem estes fóruns como um componente crítico da estratégia do Kremlin para construir redes econômicas e diplomáticas alternativas. O simpósio "Inventando o futuro", convocado por ordem do presidente Vladimir Putin e apoiado por ministérios-chave, sublinha o esforço concertado de Moscou para apresentar-se não como uma nação isolada, mas como o núcleo de uma nova aliança não ocidental.
No entanto, o sucesso final deste "roteiro" dependerá de se a promessa de parceria criativa pode traduzir-se em benefícios tangíveis tanto para a Rússia como para as diversas nações do Sul Global.
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