O município de Grossos, na região da Costa Branca do Rio Grande do Norte, será o ponto de partida para uma pesquisa no litoral dos nove estados do Nordeste sobre a atividade de coleta de marisco. A pesquisa científica já começou e deve ser concluída em 2 anos.
Está sendo conduzida pelo professor doutor em biociência Gustavo Henrique Gonzaga da Silva, do Centro Integrado de Laboratórios em Produção Animal e Recursos Hídricos da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA), Campus Central, em Mossoró-RN.
O trabalho está sendo financiado (R$ 2 milhões) pelo Ministério da Pesca, através Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), dentro do Plano Nacional para o Desenvolvimento Sustentável da Pesca Amadora e Esportiva.
O levantamento técnico, conduzido pelo pesquisador Gustavo Henrique, é para o Ministério da Pesca, mas será crucial para o desenvolvimento da pesca do marisco sustentável no litoral brasileiro. “O conhecimento será partilhado com as comunidades”, destaca o professor.
Gustavo Henrique disse que as universidades federais, estaduais e Institutos Federais dos estados do Nordeste estão engajadas no projeto Rede Maris. Ao todo, 67 pessoas atuando na pesquisa e se observar o apoio dos pescadores e pescadoras, são centenas envolvidos.
O trabalho também conta com institutos estaduais e federais, como IDEMA, IBAMA, IDIARN, SENAR. Dos municípios, estão engajados, as colônias e associações de pescadores, como a Associação de Pescadoras e Artesãs do Município de Grossos.
“É para o bem comum”, assegura o pesquisador Gustavo Henrique, observando que os próprios pescadores e pescadoras de marisco vão alimentar o banco de dados da pesquisa, mostrando o quanto coletam, onde coletam, o tamanho da área que trabalham, etc.
Este trabalho será repetido com intervalos de tempo previsto na pesquisa científica e depois analisando pelos especialistas se está havendo o repovoamento do marisco ou não nas áreas que aconteceram as pescas. Esta pesquisa vai ser crucial para evitar pesca predatória.
O professor não descarta a possibilidade também de haver uma análise sobre a qualidade do marisco coletado ao longo da costa do Nordeste. Gustavo Henrique destaca que serão percorridos “vários caminhos” no litoral, mas com um olhar da ciência.
Gustavo Henrique confirma que meta é exatamente orientar, não só os marisqueiros e marisqueiras o local adequado, como fazer esta coleta e também o intervalo de tempo adequado entre uma mariscagem e outra, mas também levar este conhecimento, por meio de palestras, nas escolas dos municípios litorâneos, como é o caso de Grossos.
O projeto Rede Maris aponta que a pesca artesanal representa cerca de 40% do total das capturas pesqueiras marinhas. Possui papel relevante na segurança alimentar e no uso sustentável dos recursos naturais. Acrescenta que aproximadamente 90% dos pescadores do mundo são artesanais, sendo que a grande maioria atua em países em desenvolvimento.
O professor Gustavo Henrique acredita que, ao final da pesquisa, o que deve ocorrer no final de 2026, unindo os conhecimentos adquiridos ao longo do nordeste e compartilhando entre as marisqueiras e marisqueiros, por meio de uma rede colaborativa, vai fortalecer a atividade ao longo do Nordeste e também de parte da região Norte do Brasil.
Entre os objetivos da pesquisa Sá Rede Maris, para além do compartilhamento do conhecimento, a cata sustentável, o professor Gustavo Henrique enfatiza no projeto a necessidade de conhecer as condições de trabalho e a saúde das marisqueiras e marisqueiros.
É um objetivo específico da pesquisa, identificar doenças laborais associadas à mariscagem e desenvolver estratégias para minimizar essas condições, quem sabe até políticas públicas municipais, estaduais e até federais em benefício do trabalhador ou trabalhadora.
“Uma vez diagnosticado o quadro patológico em função da atividade da pesca, os pesquisadores vão sugerir tratamento destas lesões, seja por esforços repetitivos, distúrbios osteo musculares e até mesmo câncer de pele nos trabalhadores desta atividade.
O trabalho será crucial para restaurar a atividade da pesca do marisco no litoral de Icapuí, no Ceará. Nesta região do Nordeste, a captura do marisco foi tão intensa nas últimas décadas que, segundo as próprias marisqueiras, a atividade está inviável. Não tem mais marisco.
Sem marisco, cerca de 200 mulheres de Icapuí-CE, durante uma atividade entre colônias de pescadores, desembarcaram na Praia de Pernambuquinho, em Grossos-RN, e coletaram quase uma tonelada de marisco, no final de semana passada. O MH acompanhou esta mariscagem.
Ocorre que neste local, as marisqueiras de Grossos evitam catar marisco. Explicam que optam por trabalhar em outras áreas, onde não existem barcos a motor estacionados em manutenção ou passando. Segundo elas, não existe certeza da qualidade deste marisco.
Este cenário escassez de búzios no litoral de Icapuí-CE, devido à pesca predatória por décadas, pode se reverter com a orientação dos pesquisadores do Projeto Rede Maris, da UFERSA, de Mossoró, a partir de apontamentos científicos. É uma luz forte no horizonte.
Em Grossos, as marisqueiras estão animadas, não só pelo apoio científico do projeto Rede Maris, mas porque os cientistas vão ajudar elas a construírem e colocar em funcionamento uma unidade de beneficiamento de pescado, que vai agregar valores ao marisco.
Atualmente, para cada balde com 10 quilos de marisco na casca, se tira 2 ou 3 quilos de marisco, que são vendidos a R$ 30 reais o quilo. Havendo o beneficiamento, um processo que gera mais emprego e renda, o quilo do marisco pode render mais de R$ 100,00.