06 DEZ 2024 | ATUALIZADO 11:02
MOSSORÓ
Carlos Brilhante é advogado, escritor, cronista e cursa Psicologia
09/06/2024 10:30
Atualizado
09/06/2024 11:21

[OPINIÃO] "Paulo não era doido ou louco. Louco somos todos nós", escreveu Carlos Brilhante

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Paulino Duarte Morais, popularmente conhecido por Paulo Doido, foi atropelado no dia 28 de maio na Avenida Presidente Dutra, no Grande Alto São Manoel e faleceu um dia após completar 58 anos, às 23 horas desta sexta-feira, 7, na UTI do Hospital Regional Tarcísio Maia, em Mossoró-RN. "Nome conhecido dos mossoroenses, figura folclórica, crônica de rua. Paulo foi todos esses conceitos, e muito mais. Ele conseguia representar todo o espírito libertário e resistente do mossoroense,", acrescenta Carlos Brilhante.
Imagem 1 -  Paulino Duarte Morais, popularmente conhecido por Paulo Doido, foi atropelado no dia 28 de maio na Avenida Presidente Dutra, no Grande Alto São Manoel e faleceu um dia após completar 58 anos, às 23 horas desta sexta-feira, 7, na UTI do Hospital Regional Tarcísio Maia, em Mossoró-RN.  "Nome conhecido dos mossoroenses, figura folclórica, crônica de rua. Paulo foi todos esses conceitos, e muito mais. Ele conseguia representar todo o espírito libertário e resistente do mossoroense,", acrescenta Carlos Brilhante.
Paulino Duarte Morais, popularmente conhecido por Paulo Doido, foi atropelado no dia 28 de maio na Avenida Presidente Dutra, no Grande Alto São Manoel e faleceu um dia após completar 58 anos, às 23 horas desta sexta-feira, 7, na UTI do Hospital Regional Tarcísio Maia, em Mossoró-RN. "Nome conhecido dos mossoroenses, figura folclórica, crônica de rua. Paulo foi todos esses conceitos, e muito mais. Ele conseguia representar todo o espírito libertário e resistente do mossoroense,", acrescenta Carlos Brilhante.
Foto: Cezar Alves

Por Carlos César Brilhante Junior

PAULO,

  Pingo do meio-dia, em plena Praça do Pax, encontro aquela figura vindo do outro lado, sua fisionomia era sempre conhecida de todos, seu vestuário sempre inconfundível, com seu boné habitual, sua camisa de propaganda e sua bermuda abaixo dos joelhos. Era como uma vestimenta de guerra, que ele usava diariamente para trilhar as ruas da urbe, em todo e qualquer horário. Quando o vi, acenei, à sua pronta resposta, rindo e concordando com o cumprimento. "Vai pra onde rapaz?", perguntei. "Ali, ali", me respondeu, sem muito papo. Cruzando como um foguete, apressado em direção ao comércio. Era seu ofício.

   Nome conhecido dos mossoroenses, figura folclórica, crônica de rua. Paulo foi todos esses conceitos, e muito mais. Ele conseguia representar todo o espírito libertário e resistente do mossoroense. Paulo era conhecido pela alcunha de "doido", nome que com o tempo e a própria luta antimanicomial, foi suplantado e esquecido aos poucos. Andava errante, por quase todos os bairros mossoroenses. Uma das últimas vezes que o vi, foi subindo à Avenida Rio Branco em direção ao Santa Delmira, era imparável, uma máquina, cujas desgastadas solas dos sapatos não se davam descanso.

   A vida parou Paulo, uma motocicleta o atropelou nas proximidades da Presidente Dutra. Levado ao hospital, sofreu complicações em sua saúde que o vitimaram fatidicamente. Lembro que logo quando soube da notícia do infortúnio, lembrei da música Construção do Chico Buarque, que diz "morreu na contramão atrapalhando o tráfego". Paulo caiu naquela via, atrapalhando a velocidade dos transeuntes. Paulo foi sereno, num mundo veloz. Paulo foi aventura e poesia, num mundo cartesiano e concreto. Ele era a própria cidade personificada. Mossoró lhe deve condolências, homenagens e resgate histórico. Dificilmente os terá, posto ser apenas mais um Silva, caído ao chão. 

   Paulo não era doido ou louco. Louco somos todos nós que não conseguimos ouvir a mensagem do seu inconsciente andarilho. 

   "Vou ali, vou ali", segue em paz, Paulo. Mossoró hoje está triste, e ficará mais pobre.

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