20 ABR 2024 | ATUALIZADO 22:33
MOSSORÓ
ANNA PAULA BRITO
03/12/2021 17:07
Atualizado
08/12/2021 13:23

“Faça! Sonhe!”, diz Thiago Queiroz sobre a participação de pessoas com deficiência visual no ENEM

Aos 33 anos, Thiago é uma pessoa com cegueira legal, possuindo apenas 5% da visão. O problema é degenerativo, fazendo com que ele perca um pouco mais da visão com o passar do tempo. No entanto, ele nunca desistiu de buscar um futuro melhor, com mais acessibilidade e oportunidades e acredita que o meio para conseguir realizar seus sonhos é a educação; o MOSSORÓ HOJE conversou com Thiago e conheceu um pouco da história dele.
Aos 33 anos, Thiago é uma pessoa com cegueira legal, possuindo apenas 5% da visão. O problema é degenerativo, fazendo com que ele perca um pouco mais da visão com o passar do tempo. No entanto, ele nunca desistiu de buscar um futuro melhor, com mais acessibilidade e oportunidades e acredita que o meio para conseguir realizar seus sonhos é a educação; o MOSSORÓ HOJE conversou com Thiago e conheceu um pouco da história dele.
FOTO: ANNA PAULA BRITO

O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), porta de entrada para diversas universidades do Brasil e até de Portugal, é considerado por muitos estudantes um exame com um alto grau de dificuldade. Para outros, como é o caso de Thiago Fernando de Queiroz, pode ser ainda mais difícil.

Thiago, de 33 anos, é uma pessoa com cegueira legal, isso significa que ele possui apenas 5% da visão, enxergando apenas algumas luzes e vultos. O problema é degenerativo, fazendo com que ele perca um pouco mais da visão com o passar do tempo.

Isto, no entanto, nunca o impediu de buscar um futuro melhor por meio da educação. Este ano, ele realizou a prova do ENEM pela oitava vez e contou à reportagem do MOSSORÓ HOJE que gostou muito exame.

Thiago, que já tem uma graduação em Direito e está finalizando uma segunda em História, sonha com uma nova oportunidade, desta vez, em uma universidade do exterior.

Ele explica que fez o Enem 2021 com o objetivo de conseguir uma bolsa em Portugal, em uma universidade parceira do Ministério da Educação (MEC).

Conta que a intenção é buscar mais qualificação para trabalhar com as pessoas com deficiência visual aqui no país, visto que o apesar do avanço de políticas de inclusão, ainda há muita dificuldade e preconceito.

“Eu vejo que para que eu seja uma diferencial aqui no meu país, no meu estado, no meu município, eu preciso ter uma formação em um outro país, ter um outro idioma. Pretendo fazer um doutorado, quem sabe, na França. Eu quero estudar sobre as diversas constituições sociais onde foi o berço da constituição social, então eu acredito que quando eu tiver essas informações, eu acredito que o mercado de trabalho pra mim será mais viável”, diz.

Atualmente, Thiago exerce uma função comissionada, atuando no Centro de Apoio ao Deficiente Visual de Mossoró (ADVM). No entanto, ele explica que, no geral, as oportunidades de emprego no município, bem como em todo o país não são tantas como para outros tipos de deficiência ou mesmo para qualquer outra pessoa.

Nascido em São Paulo, Thiago é filho de dois potiguares, da cidade de Antônio Martins, que se mudaram para o sudeste em busca de melhores condições de vida. Quando começou a perder a visão, ele se mudou para Mossoró.

Ele conta que os pais, até hoje, batalham muito para viver e que a educação para ele é uma forma de honrá-los.

“Eu sonho muito que ainda vou conseguir me tornar um alguém, porque querendo ou não, ainda hoje, por mais que estejam discutindo a inclusão, a inserção social, a incapacidade é vista antes da pessoas Thiago”, diz ele lamentando que as pessoas muitas vezes veêm sua deficiência acima da sua capacidade e de tudo que já conquistou até aqui.

Diante dessa vontade de vencer por meio do estudo, Thiago, juntamente com outras pessoas com deficiência da cidade de Mossoró, foi responsável por encampar a luta que culminou na Lei 13.409/2016, que institui cotas para pessoas com deficiência em universidades federais.

Em 2015, devido a falta de acessibilidade do edital, Thiago e mais de 60 outros estudantes foram impedidos de ingressar na UERN por meio do Enem. Na época, ele foi aprovado para o curso de física e sonhava em conseguir uma bolsa de pesquisa por meio do Ciência sem Fronteiras.

“Um lado negativo, que foi o impedimento da UERN, fez com que a gente começasse uma luta aqui em Mossoró, essa luta foi para o estado e a gente conseguiu embarcar essa luta no congresso nacional, ao ponto que, graças a Deus, a gente conseguiu que toda essa luta se tornasse pertinente e se tornasse uma lei. Hoje várias pessoas com deficiência no Brasil têm esse direito e começou essa discussão aqui em Mossoró”, conta.

Sobre o Enem, Thiago explica que a maior dificuldade para ele são os gráficos nas questões de exatas, que tornam praticamente impossível para as pessoas com deficiência visual conseguirem responder em tempo hábil.

Mesmo com a presença dos ledores que, segundo ele, vem melhorando suas técnicas de leitura ao longo dos anos, os gráficos impossibilita a resolução das questões pelas pessoas cegas.

Apesar disto e de todas as dificuldades ao longo do caminho, Thiago não desanima e ainda envia uma mensagem de incentivos aquelas pessoas com deficiência visual e que sonham em cursar uma universidade, que não desanimem.

“Eu vim de um bairro de extrema vulnerabilidade e foram muitas dificuldades que eu enfrentei para estudar. Eu era uma utopia. Mas eu digo que não importa a condição social que a pessoa vivencia, não importa se ele tem uma superproteção da família, se ele tem uma dificuldade, se ele não tem apoio. Hoje, a internet libera vários cursos, você pode procurar no youtube, o próprio site do Enem tem cursinhos que auxiliam”, diz.

Ele ainda lembra que é possível à pessoas com deficiência visual buscar apoio, ainda, no CADV de Mossoró, onde existem professores aptos a auxiliar e orientar o estudante a realizar a prova do do ENEM.

“Façam! Sonhem! Porque acontece de às vezes a sociedade, até a própria família acaba desmotivando a pessoa a não sonhar. Ela pode ser o que ela quer, lembrando que com muitas dificuldades, mas estude. Eu mesmo fiz três Enems para entrar na faculdade, então não é na primeira dificuldade que a pessoa deve desistir, ela deve persistir, continuar lutando, continuar buscando seus sonhos e fazer o Enem”, finaliza.


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