Enquanto a ocupação de UTIs por pacientes com Covid-19 ultrapassa 90% na maioria dos estados, o Brasil pode estar prestes a sofrer com a falta de medicamentos e de oxigênio para pacientes internados.
Hospitais particulares já relatam ter estoque de sedativos e outras drogas apenas para mais cinco dias. Em pelo menos 18 estados, o chamado “kit intubação” dura, no máximo, 20 dias, segundo o Fórum de Governadores.
Além disso, ao menos 116 cidades podem ter falta de oxigênio em breve, segundo levantamento feito pelo GLOBO, a partir de dados da Frente Nacional de Prefeitos (FNP).
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Com a maioria dos leitos ocupados, hospitais de todo o país correram para repor seus estoques de medicamentos, aumentando a demanda por insumos e, consequentemente, o preço das principais drogas usadas por pacientes intubados.
Segundo gestores ouvidos pelo GLOBO, o mercado não apresenta condições de oferecer a quantidade de medicamentos em um cenário em que o estoque de leitos no Brasil aumentou e já está quase todo ocupado. A prefeitura de Curitiba atingiu ontem 101% de vagas de internação de Covid ocupadas, por exemplo.
“Já ocorreram problemas de falta de medicamentos no ano passado, mas este ano está muito pior, porque a necessidade de intubar é maior. Estamos em uma tempestade perfeita: preço aumentando, crise na oferta, aumento de pacientes e falta de materiais”, disse o presidente do Sindicato de Hospitais, Clínicas e Laboratórios de São Paulo (SindHosp), Francisco Balestrin.
Em pesquisa realizada pelo SindHosp, 79% dos hospitais de São Paulo reclamaram do aumento do preço de medicamentos. De acordo com os gestores hospitalares, o preço do midazolam, sedativo usado no momento da intubação, aumentou 414%.
O rocurônio, bloqueador neuromuscular, teve aumento de 960%. Em um documento entregue ao Ministério da Saúde, governadores do Nordeste afirmam que o preço dos insumos está até 75% superior ao valor de um ano atrás.
O diretor do Hospital Universitário Pedro Ernesto, Ronaldo Damião, afirma que a falta de medicamentos é o maior desafio hoje para atender os pacientes com Covid-19. Segundo ele, a situação é ainda mais dramática na rede pública, que não pode pagar por preços mais elevados e tem dificuldade para fazer compras rápidas, sem licitação.
“Nossos estoques estão no fim. Faltam remédios, mas os pacientes continuam a chegar. A situação é desesperadora”, disse ele.