23 ABR 2024 | ATUALIZADO 16:06
Entrevista
Da redação
30/05/2015 10:13
Atualizado
11/12/2018 15:21

É muito ruim. Queria só uma explicação , diz pai do estudante morto por bala pedida em Mossoró

Policiais civis estavam trocando tiros com suspeitos por volta das 20 horas do dia 3 de abril de 2014 e Alexsandro, que estava próximo com outros três amigos na calçada de uma casa, foi atingido na cabeça e morreu
Cezar Alves

O sentimento de injustiça no seio social é alto. E tem sido motivo de mais crimes. Mas o que ocasiona e fortalece o sentimento de injustiça no seio social?

A resposta pode está nas palavras, na maneira como se expressa do micro empresário Agacê Antônio da Silva, de 45 anos, que teve um filho Alexsandro Mendonsa Filho, de 17 anos, morto com um tiro na cabeça no dia 3 de abril de 2014 e, passado um ano e dois meses, a investigação se quer saiu das mãos dos três delegados que apuram o caso.

Falta o perito do Instituto Técnico-científico de Policia (ITEP), concluir o laudo da Reconstituição do Caso, que foi feita há cerca de oito meses, na rua Pedro Velho, bairro Santo Antônio, zona norte de Mossoró.

Na ocasião, o garoto estava com outros três amigos sentados na calçada, conversando, quando começou uma troca de tiros entre bandidos e policiais civis na esquina próxima.

"Alexsandro, corra que é bala. Ele já estava no chão", conta Agacê Antônio em A ENTREVISTA.

 

Quando que seu filho foi baleado?

Agacê - Meu filho foi baleado no dia 3 de abril de 2014. Vai completar um ano e dois meses agora. 

Como aconteceu?

Aproximadamente 8h da noite, saiu de casa, passou na casa do avô, pediu R$ 5 reais. Aí o avô deu cinco reais. Depois ele passou na casa de um amigo do colégio. Estava sentado na cadeira e se levantou. Na hora teve muitos tiros no meio da rua, o colega gritou "é bala" e correram para dentro de casa e disseram: ‘Alexsandro, é bala’. Ele disse: ‘É não’. São os meninos dando tiro com moto. Aí os meninos correram para dentro de casa e quando gritaram: ‘Alexsandro, corra que é bala. Aí ele já estava no chão, baleado.


Quantos anos?

17 anos.


Estava estudando qual série?

Estava terminando os estudos. Terminando o segundo grau. Queria ser jornalista. Era o sonho dele. Sonhava em trabalhar na TCM.


Passados um ano e dois meses que aconteceu a troca de tiros entre policiais e bandidos e que resultou na morte de seu filho. Qual seu desejo agora?


Este ‘aquilo’ que o Sr. se refere é o laudo que o ITEP fez a reconstituição do crime no mês de setembro de 2014 e até hoje não entregou o laudo aos delegados que apuram o caso para concluir a investigação?

Estou esperando este laudo do ITEP. É este mesmo. Estou sem saber o que fazer. Estou esperando a justiça da terra. Confio na justiça de Deus, mas espero a justiça da terra.
....

Ele tem um irmão. Eu tenho outro filho de 22 anos, que se formou há pouco tempo. Consegui formar ele em Administração. Meu menino se formou e a gente não teve direito nem se quer de se animar. O que consegui mesmo foi chorar no dia da formatura me lembrando do outro (soluços, lágrimas).

 

Qual o sentimento que você tem diante de tudo que tem se passado? Como vocês estão como familia?


O sr., ao contrário de muitas famílias que perderam seus parentes, tem ido ao rádio, tem ido a Justiça, ao Ministério Público, às delegacias, pediu ajuda e está sendo acompanhado pela Comissão de Direitos Humanos. Tem encontrado apoio?

Tenho ido muito ao ITEP, tenho feito muita caminhada, tenho procurado muito advogado. O que escuto é vamos esperar, que vai sair, que vai dá certo.


O sr., está falando do laudo da reconstituição?
É. Estou.

Veja como aconteceu a reconstituição

 

A quanto tempo esta reconstituição aconteceu?

Está com uns oito meses que fizeram a reconstituição. A Comissão de Direitos Humanos, através de Catarina Vitorino esteve com a gente lá, acompanhando. Havia muita gente nas ruas. Todo mundo nos apoiando com cartazes. Na época disseram (o ITEP) que era no máximo 30 dias, mas até agora nada. Nada do laudo da reconstituição para ser entregue a Polícia, para os delegados concluírem a investigação e remeter para a Justiça. Faz um ano e depois meses e sequer o caso é processo. Ainda é inquérito. Nem saiu da delegacia. Tenho que agradecer a Comissão de Direitos Humanos que tem nos recebido, que tem conversado, que tem estado ao nosso lado desde o início.


Temos ciência que durante uma investigação policial, é feito um perfil social da vítima e também os suspeitos investigados. Isto já foi feito? O sr. teve conhecimento disto?

Levantaram tudo do meu ‘minino’ e só encontraram coisas boas. Eu só quero justiça. Eu não quero fazer nada não. Eu tenho minha firma, eu tenho oito trabalhadores para tomar de conta, tenho outro filho, tenho mulher, tenho pai e mãe que depende de mim. Eu não quero nada não. Graças a Deus tenho casa própria, caminhão que faz frete, tenho carro pequeno de passeio, eu tenho uma vida boa, eu tinha uma vida boa. Eu só quero que a Justiça diga a sociedade que meu ‘minino’ era assim, assim, assim...E que tudo aconteceu por isto e por aquilo. Eu só quero isto. Aí já fico satisfeito com isto. Já fico satisfeito. Este tempo todinho esperando e os vizinhos ficam perguntando, perguntando o que aconteceu, como foi, quem fez, porque ninguém diz nada. Pergunta se o laudo já saiu, já saiu, já saiu e mesmo eu morando num sobrado... eu não tenho o que dizer. Fico sem ter o que dizer. É muito ruim. Queria só uma explicação.


Qual explicação?

Que foi um erro, assim, assim, assim, que erros acontecem. Que todo ser humano pode errar. Eu só queria que a Justiça desse uma explicação, para a sociedade, os amigos do meu ‘minino’ ficassem sabendo o que aconteceu, o que realmente aconteceu e as outras pessoas que não conheciam ficassem sabendo que ele era um ‘minino’ muito bom, estudioso, alegre, que só nos dava alegria. Nestas caminhadas que realizamos, todos estiveram presentes, inclusive o pessoal das duas escolas que ele estudou. Se ele não fosse um ‘minino’ bom, os professores e diretores das escolas que ele estudou não teria participado. Não participaria. Não teria ido ao protesto, não teria rezado com a gente na missa. Os vizinhos, as ruas pertos o povo todo saiu de dentro de casa com panos brancos. O povo no dia do enterro, a rua não cabia de gente. Para você ver que era um ‘minino’ bom. Um dos enterros que teve mais gente foi do meu ‘minino’. Quando a fila de gente chegava ao Rebouças do Centro, ainda tinha gente saindo do Rebouças do Santo Antônio... infelizmente ele não vai... Tô esperando agora que a Justiça me dê uma satisfação, uma satisfação...

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