29 MAR 2024 | ATUALIZADO 18:35
Entrevista
Cezar Alves e fotos Valéria Lima
07/05/2015 19:35
Atualizado
06/12/2018 10:54

Nós estamos trabalhando para construir um hospital geral em Mossoró , diz reitor

Universidade Federal Rural do Semi Árido está transformando o cenário sócio econômico das regiões Central, Médio Oeste e Alto Oeste com a expansão dos campi
Valéria Lima

Com 32 anos prestando serviços públicos, o professor doutor José de Arimatea Matos, tem uma difícil missão no Oeste do Rio Grande do Norte: concluir e consolidar, como reitor, a expansão da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA) com a construção de um hospital geral em Mossoró, para servir de laboratório aos Cursos de Medicina dos Campi da Instituição em Mossoró e Assu.

Sua carreira como servidor público começou em Campina Grande, no campus da Universidade Federal da Paraíba, hoje Universidade Federal de Campina Grande. Por lá, foram 19 anos de serviços prestados cumprindo o dever como engenheiro agrícola. Sua história na UFERSA começou no dia 5 de julho de 2002 quando a instituição ainda era Escola Superior de Agronomia (ESAM), a qual ele contribuiu como professor projetista para transforma-la numa universidade federal e agora como reitor trabalha para consolidar este crescimento no campus Central e nos campi dos municípios de Angicos, Caraúbas, Pau dos Ferros e Assu.

Na Universdade Federal Rural do Semiárido, que completa no próximo dia 1 de agosto 10 anos de existência, os números impressionam. Quando era ESAM tinha 1,1 mil alunos e hoje a UFERSA tem mais de 8,5 mil numa enorme estrutura que não para de crescer. Eram 50 professores em 2002 e hoje concursados e empossados são 567.

Com orçamento superior a R$ 240 milhões/ano, a UFERSA é hoje fundamental para o crescimento econômico, social e cultural das regiões Central, Médio Oeste e Alto Oeste do Rio Grande do Norte. Atualmente tem R$ 53 milhões sendo investidos em obras físicas. E a trajetória do professor/doutor José de Arimatea Matos se entrelaça com a expansão da instituição.

Nesta entrevista, o reitor José de Arimatea Matos fala de como nasceu a UFERSA, como expandiu e o trabalho que está tendo, em parceria com a senadora Fátima Bezerra, em Brasília, para consolidar o projeto.

Entre outras informações, o reitor destaca:

"Nós estamos trabalhando para construir um hospital geral em Mossoró"

Segue-a,

MOSSORÓ HOJE: Dr., qual sua origem no serviço público e como foi o seu ingresso na ESAM hoje UFERSA?

JOSÉ DE ARIMATEA MATOS: Eu ingressei na Ufersa no dia 5 de julho de 2002 através de concurso público para professor. Na época uma vaga que o curso de Agronomia tinha para irrigação e drenagem. Fui o quinquagésimo professor desta instituição. Hoje temos empossados 567 professores. Isto além dos que estamos contratando. Vim da UFCG, de Campina Grande. Ela havia abacado de se tornar universidade. Antes eram um campus da UFPB. Eu trabalhava lá como engenheiro agrícola. Havia ingressado lá em 1983. Estou completando 32 anos de serviços públicos, sendo 19 como engenheiro agrícola e 13 como docente.

 

Como foi o processo de transformação da ESAM em UFERSA?

Com pouco tempo após chegar na UFERSA, fomos convidados para participar de algumas ações pelo então diretor da ESAM, o professor Marcelo Pedrosa, diante da experiência que trazia lá da UFCG. Em 2003, ele convidou quatro docentes para elaborar o processo de transformação da ESAM em Ufersa. Eu tive a felicidade de fazer parte desta comissão. Ele deu prazo de apenas 30 dias, mas era muito pouco e ele depois ampliou para trabalharmos melhor a proposta que seria debatida com a classe politica e depois levada ao Ministério da Educação.

 

O projeto de transformação da ESAM em UFERSA foi elaborado todo pela comissão de docentes ou teve outro projeto para servir de base?

Nós tivemos como base o projeto de instituição da UFRAN, que é a Universidade Federal da Amazônia, que havia sido transformada em Universidade no ano anterior. Ela também era uma escola isolada como a ESAM. Daí encaixou no nosso propósito. O projeto foi concluído em 2003 e depois levado ao Ministério da Educação pelo então reitor Marcelo Pedrosa. Teve a tramitação. Em seguida o professor/doutor Josivan Barbosa assumiu o comando da ESAM em 2004 e a transformação na UFERSA. O projeto já estava na Casa Civil. Josivan iniciou o processo de diálogo aqui em Mossoró, com a Câmara, foi na Assembleia e conseguiu apoio da bancada federal. Concluiu em 31 de julho de 2005 com a assinatura da Portaria que foi publicada no dia 1 de agosto daquele ano. A UFERSA completa 10 anos em agosto.

Transformada ESAM em UFERSA veio o crescimento estrutural. Como este processo se deu?

Essa expansão especificamente aconteceu em 2007. Com a transformação, a UFERSA ganhou autonomia de criar cursos. Em 2006 ampliamos os cursos, com Administração e Engenharia de Produção, mas era uma ampliação lenta. Em 2007, o Governo Federal criou o programa de Reestruturação das Universidades Federais (REUNI). Mais uma vez participei da comissão para formatar a proposta de ampliação da UFERSA. Só que esta ampliação deveria acontecer conforme o orçamento. Tinha limites. Inicialmente só podiam ampliar em 20%, mas num discursão na Associação de Dirigentes Federais de Ensino Superior, conseguimos ampliar para 50%, conforme o tamanho da universidade. Então a Ufersa como era a menor, ficou com os 50%. Para ser aplicado os recursos, primeiro precisava ser aprovado no Conselho Universitário, que por sua vez decidiu que os recursos deveriam ser investidos só no campus Central e não fazer logo os campi, como estava sendo pleiteado nas regiões. Eu até entendo que teve razões para isto e foi melhor assim, pois conseguimos expandir sem estes recursos.

E como nasceu o projeto dos Campus?

O então reitor, professor Josivan Barbosa, pediu que o Conselho aceitasse a expansão fora de Mossoró, mas não usando os recursos do REUNI. O que ele queria era aprovação para depois ir buscar recursos junto a bancada federal para a expansão. Era uma proposta ousada, mas possível. Isto começou em 2008, quando conseguimos através da bancada federal recursos para instalar o campus de Angicos. Este foi criado no primeiro semestre de 2009.

Depois veio o Campus de Caraúbas. O processo foi o mesmo?

Aí já foi um processo que não precisou de emendas de bancadas. O então ministro Fernando Hadad aceitou a criação do campus conforme estavamos propondo. Foi o campus que teve menos recursos da bancada federal. O Ministério da Educação entendeu a necessidade de instalar o campus e o fez com seu orçamento próprio. Isto aconteceu em 2010 e começou a funcionar no segundo semestre deste.

 

Sendo assim, em Pau dos Ferros já foi com recursos de emenda de bancada?

Este iniciou através de emendas de bancadas em 2010 e em 2011, quando já com a presidenta Dilma Roussef no poder, lançou o programa de expansão das universidades e colocamos o campus de Pau dos Ferros. Aí começamos como campus em 2012.

 

Em número de alunos, em dez anos, a transformação da ESAM em UFERSA representa um crescimento de quantos por cento ou em números?

A ESAM tinha pouco mais de 1.100 alunos, entre alunos de graduação e pós-graduação, e atualmente a UFERSA está com 8,5 mil alunos. Só para se ter uma ideia, hoje o campus da UFERSA em Angicos tem o mesmo número de alunos que tinha na ESAM em 2003.

 

Qual a importância econômica da chegada dos campi da UFERSA nas regiões Central, Médio Oeste e Alto Oeste do Rio Grande do Norte?

 

Sabemos dos cursos de ciência e tecnologia que são sucedidos por engenharias, que já é muito importante para a desenvolvimento regional sustentável. Mas em se tratando de inclusão social, o que o senhor destacaria no campus de Caraúbas, por exemplo?

 

Em se tratando especificamente de Mossoró?

 

Sobre a formação de profissionais?

Nós colocamos no mercado a cada semestre em torno de 400 profissionais em todas as áreas: Ciências Agrárias, que é a mais antiga, Ciências Sociais Aplicadas, Administração e Contáveis. Em julho teremos a primeira turma de Direito formada e 80% dos alunos já estão aprovados na OAB. Eu sempre digo que a UFERSA não só gradua profissionais, mas ela forma cidadãos. Este é o grande objetivo da universidade. Além destas áreas, temos as engenharias, Tecnologia da Informação. Entramos também na área de Licenciatura. Agora temos a licenciatura Educação do Campo. Ainda para formar. Hoje já temos já formando Ciências Agrárias, Ciências Sociais Aplicadas, Tecnologia da Informação e Engenharias. Estas são as áreas que hoje colocamos no mercado e sabemos que nossos egressos tem obtido grandes resultados no mercado trabalho e também na academia. Muitos conseguem entrar em grandes cursos de mestrado no Brasil a fora.

 

Já conhecemos como a ESAM se transformou em UFERSA e o benefício a sociedade em todos os sentidos. Todo este trabalho vem associado com reconhecimento, reitor José Arimatea Matos?


Primeiro ganhamos um prêmio de sustentabilidade financeira doado pela Odebrecht, que teve mais de 2 mil participantes e finalizou com cinco projetos e um deles era da Ufersa. Este prêmio teve a divulgação do resultado final no auditório do Maracanã, em fevereiro de 2013. A Odebrecht pagou a ida dos gestores das cinco instituições, do professor coordenador e dois alunos, inclusive todos com acompanhantes. E no dia lá, a divulgação foi naquela sequência. Anunciaram o quinto lugar, depois o quarto, depois o terceiro e nada da Ufersa. Quando anunciaram o segundo lugar, a vibração do pessoal da Ufersa foi maior do que o segundo lugar. Este foi um prêmio que a Ufersa comemorou muito. Um marco na instituição. Em 2014 ganhamos o prêmio de Solidariedade do Santander. Este foi um projeto do professor Nildo Dias, que também ganhou outro prêmio de sustentabilidade num projeto feito numa cooperativa de lixo. Este prêmio é disputado por todas as universidades do Brasil. E, finalmente, agora, em 2015, ganhamos um prêmio destinado especificamente para as 63 universidades federais do Brasil. Nós ficamos em segundo lugar. A Universidade Federal do Piauí ficou em primeiro lugar e ganhou R$ 3 milhões. A UFERSA ficou em segundo lugar e recebeu R$ 1 milhão. Este prêmio teve a coordenação da professora Diana Lunard e do professor Vitor Lunarde. Foram os dois professores envolvidos no projeto que objetivava buscar ideias aplicáveis para reduzir o consumo de energia e água. Eles trabalharam com os alunos, junto com os técnicos administrativo Júlio Cesar e Giorgio, da horta didática. O prêmio tem que ser aplicado na área de redução de consumo de energia e também de água. Então colocamos para os alunos e professores decidir e vamos investir em painéis solares. Vamos colocar na biblioteca do campus Central.

 

O curso de Medicina, que tanto nossa região precisa? Como foi o apoio politico para que Mossoró e Assu tivesse em suas terras o Curso de Ciências Médicas?

Primeiro a questão da expansão teve toda a bancada federal. Depois o cenário mudou. Para consolidar o crescimento e ampliar a UFERSA, com residência universitária em todos os campi e também em Mossoró, assim como para implantar o curso de Direito e Medicina, além do volume de recursos na ordem de R$ 53 milhões para ser aplicado a partir de 2014, foi a então deputada federal Fátima Bezerra, que hoje é senadora pelo PT. Quantas vezes foi necessário ela foi todas as vezes ao Ministério da Educação, não só com minha presença, mas sozinha buscando por novos recursos e cobrando liberação de recursos já empenhado. Além disto aprovamos o curso de Medicina não só para Mossoró, mas também para Assu, que também teve a participação direta da senadora Fátima Bezerra. Para Mossoró, também teve uma participação do deputado federal Henrique Alves, que hoje é ministro. Este foi no inicio. Ele conseguiu audiência com o ministro. Depois a deputada federal engajou-se na expansão do curso de Medicina para Assu. Ela, diretamente. Fizemos audiência pública em Assu. Elaboramos o projeto e levamos para o secretário executivo do Ministério da Educação, Henrique Paim. Ele de imediato olhou o mapa e disse: “aqui em Assu só tem condições de construir o campus da UFERSA se for na área de saúde”. De pronto aceitamos e em pouco tempo recebemos o resultado positivo e os recursos já estavam aprovados. O investimento inicial para o curso de medicina é de R$ 30 milhões para Mossoró e R$ 30 milhões para Assu. Estes recursos são para fazer apenas a estrutura física dos prédios. A questão dos equipamentos e livros devemos fazer licitação este ano. Conversando com a professora que está trabalhando o projeto pedagógico, Andrea Tabot, que conhece bem a área de saúde, ela disse que precisamos inicialmente de R$ 2 milhões para comprar livros. Para equipar os laboratórios, o valor se aproxima de R$ 5 milhões. Sobre o credenciamento, Vinícius Ximenes, que é responsável pelo ensino superior junto ao MEC, informou que agora no início do segundo semestre vamos receber a visita objetivando concluir o credenciamento do curso tanto para Mossoró como para Assu.

 

Ao instalar a faculdade de medicina, vem a necessidade de leitos hospitalares para servir de laboratório para os estudantes. Como estão as negociações para Mossoró ter um hospital universitário?

O governo federal criou a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. Nós já dialogamos com a senadora Fátima Bezerra no sentido que em 2016, nós possamos ter orçamento para a ABSER criar o hospital universitário para Mossoró. Esta discussão é muito boa. As outras cidades que instalaram o curso de medicina já conseguiram seus hospitais. A última conversa que tive com a senadora Fatima Bezerra foi na colação de grau dos alunos em Pau dos Ferros. Ela me chamou para uma conversa pessoal e disse que pessoalmente já havia dialogado com o Ministro da Saúde. Ela novamente se antecipou a este projeto. Nós estamos trabalhando na perspectiva de conseguir os recursos para um hospital geral em Mossoró. Nós estamos trabalhando para construir um hospital geral em Mossoró. Inicialmente a ideia era de um hospital de 150 leitos, mas já tivemos informações que a ABSER quer um hospital muito maior, seguindo o que recomenda a Organização Municipal de Saúde. A carência aqui na região é muito grande e acho que o Curso de Medicina vai melhorar muito neste setor. Inicialmente já pactuamos 80 professores para Mossoró e 60 professores para Assu. No início, estava previsto 60 para cada cidade, mais a então deputada Fátima Bezerra pediu ao MEC para ampliar o número em Mossoró, por ser maior e a carência também. Então a partir de 2017, serão abertas 140 vagas para alunos e teremos 140 professores na área de saúde nos dois municípios. O avanço na saúde da região será muito grande. Para medicina, não vamos fazer concurso de dedicação exclusiva. Não tenho dúvida que daqui há quatro ou cinco anos a saúde na região Oeste do Rio Grande do Norte será outra bem diferente. Para complementar, certamente após instalado, vamos conseguir outros cursos nas áreas de saúde, para complementar a medicina, vamos buscar vagas para cursos de nutrição, fisioterapia, farmácia e bioquímica e aí vamos ver o que conseguimos no futuro. Vamos torcer que o financeiro no País permita esta expansão. Ontem (terça-feira, 6) o secretário de Educação Superior do MEC Jesualdo Farias me informou por telefone que partir de junho, vai convidar individualmente cada reitor para tratar sobre os recursos destinados para estas universidades em 2016 e 2017. Em 2014, a UFERSA ficou sem receber R$ 7,8 milhões previstas em orçamento. Este valor foi contingenciado. Este é um volume de recursos alto, que seria importante na consolidação das obras que estão em andamento na universidade. Agora, para consolidar estas obras, vamos usar recursos previstos no orçamento de 2015. Mas o secretário de educação superior, que é ex-reitor da Universidade Federal do Ceará, que conhece bem as universidades federais, vai trabalhar para que a expansão das universidades seja consolidada.

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