18 ABR 2024 | ATUALIZADO 18:25
Entrevista
Cezar Alves
30/08/2015 07:49
Atualizado
06/12/2018 05:51

Engrossamos o cangote com os prefeitos da região na questão do custeio do SAMU

O prefeito Fabrício Torquato revela em A Entrevista onde nasceu, cresceu, estudou, como entrou na politica, como chegou a Prefeitura de Pau dos Ferros, como está superando a crise financeira, hídrica e mesmo assim como vai fazer a Finecape, uma grande festa realizada anualmente de fundamental importância para a economia da cidade.
Cézar Alves

Coube ao odontólogo apaixonado por politica desde os 6 anos Luiz Fabrício do Rêgo Torquato encarar a crise financeira que assola o País e a crise hídrica que atingiu em cheio o Oeste do Rio Grande do Norte para administrar a Prefeitura de Pau dos Ferros, que tem cerca de 30 mil habitantes e uma população circulante que chega a dobrar este número de habitantes.

Graduado em odontologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte e pós graduado pela Faculdade de Odontologia de Bauru (SP), corredor de rua nas horas vagas, o prefeito Fabrício Torquato nesta entrevista conta como entrou na política em 2006 com uma uma grande derrota e como chegou ao cargo de prefeito de Pau dos Ferros com uma vitória consagradora em 2012.

O prefeito Fabrício revela onde nasceu, cresceu, estudou, como entrou na politica, como chegou a Prefeitura, como está superando a crise financeira, hídrica e mesmo assim como vai fazer a Finecape, uma grande festa realizada anualmente de fundamental importância para a economia da cidade.

Segue

Mossoró Hoje - Prefeito, o sr. nasceu, cresceu em Pau dos Ferros ou veio de outra região como muitos estão fazendo agora em função da chegada dos Campis do IFRN e UFERSA, além do da UERN que já existia e agora foi ampliado e tem até doutorado?

Fabrício Torquato – Nasci e me criei em Pau dos Ferros. Sou da terra.

MH - Irmãos?

FT - Tenho. Tenho irmão gênio, o Fábio Torquato. Ele mora em São Paulo faz dez anos. Se ele passar por você, você confunde tranquilamente comigo e eu termino levando a fama de antipático (risos). As outras duas irmãs são Monalisa e Fabiola Torquato.

MH - Onde estudou?

FT - Em Pau dos Ferros estudei até a 8ª série. Depois fui para Fortaleza e lá fiquei dois anos estudando no Colégio 7 de Setembro e morando com minhas tias. Lá era um convento, eu odiava (sorrindo) naquela época, mas hoje sei o quanto foi importante para minha formação. Depois fui cursar o pré-vestibular no Salesiano em Natal, onde eu ficava na casa dos meus pais no bairro Lagoa Nova. Depois de me graduar em Odontologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, uma grande honra, fui fazer pós-graduação em Periodontia (especialidade que cuida dos tecidos de suporte dos dentes, como gengiva, e uma gama de procedimentos cirúrgicos) na Universidade de São Paulo, Campus de Bauru (SP). Quando eu terminei a pós-graduação na USP (foi o momento de minha vida. Vivia sem preocupações e meus pais pagava as contas (risos), em 2002, ficava metade do tempo em Natal, em consultório particular, e a outra metade no Programa de Saúde da Família (PSF), em Pau dos Ferros. Meu sangue puxou tudo de volta para lá.

MH - Atuar no PSF, que é bem próximo das famílias, contribuiu para seu ingresso na política ou foram outros fatores que o atraíram?

FT – Rapaz, a minha família está dentro da política em Pau dos Ferros. Minha mãe Maria Rego já foi vice-prefeita. Quando eu tinha 6 anos, idade do meu filho hoje, e chegava os jornais da capital e de Mossoró, ia logo ler a página política. Acho que aconteceu meu ingresso naturalmente. Quanto se atende ao público, conversando com as famílias bem próximo, como é o caso de trabalhar no PSF, cria-se laços com as famílias. Muito bom esta relação. O atendimento particular é bom, mas não se compara em atender no setor público.

MH - Como foi sua primeira disputa em 2006, considerando que Leonardo Rêgo era seu aliado (hoje é adversário), havia derrotado sua mãe Maria Rêgo dois anos antes na corrida da Prefeitura?

FT – Foi bem complexa mesmo. Complicado para o eleitor entender. Leonardo Rêgo havia derrotado minha mãe em 2004. E em 2006 foi quando juntou Garibaldi Alves, Rosalba Ciarlini José Agripino contra Vilma e perderam. Vilma venceu todos. Rosalba Ciarlini também venceu para o cargo de senadora. Eu era PMDB naquele tempo. Era bem partidário. Quando houve esta convergência, seguimos Garibaldi Alves, isto foi bem traumático porque fazia apenas dois anos que havíamos sido adversários locais. Levamos uma peia de dois mil e tantos votos. Vilma ganhou com quase três mil votos em Pau dos Ferros. Naquele momento foi oportunidade de amadurecimento político e um contato mais próximo com o eleitor pauferrense. Figurou como uma transferência do capital política da minha mãe para mim. Minha mãe já não tinha tanto interesse na política e eu já tinha todo o interesse na política, depois de atuar em 4 PSF na cidade. Na verdade, minha mãe pavimentou um caminho e eu peguei este caminho pavimentado e embarquei na vida pública de vez e fui si bora.

MH - Qual o resultado real da eleição de 2006

FT – Lá em Pau dos Ferros, naquele ano, não deu certo misturar água e óleo (DEM e PMDB). Não deu certo. Perdemos a eleição para governo. Vilma venceu em Pau dos Ferros com larga vantagem de fotos o meu candidato que era Garibaldi Alves. Mas ganhamos com Rosalba Ciarlini para o Senado Federal. Daí tivemos uma afinidade maior com o então prefeito Leonardo Rego. Passamos a contribuir com o crescimento de Pau dos Ferros, que efetivamente começou a acontecer a partir de 2007. Tínhamos um grupo político muito forte, porque na campanha de 2008, que eu era PMDB, só os cândidos a vereador do partido tiveram quase dois mil votos, numa eleição que o cargo era conquistado com 300 votos. Então a partir do momento que Leonardo Rego começava a ter um desgaste em 2006 terminou por agregar um grupo político forte e a contribuir mais com o crescimento da cidade. Olha, política faz somando e foi o que aconteceu.

MH – Então, foi em 2007, a partir da união política, que começou a transformação de Pau dos Ferros no que é hoje?

FT – No período de 2005 a 2006 não havia nada destas obras muito grande. Vieram começar a acontecer basicamente de 2007 a 2008. Teve esta mudança administrativa positiva, teve a questão da aliança política, que Leonardo Rego incorporou um grupo importantíssimo, que desfalcou o outro lado (Maria Rego havia sido candidata em 2004 junto com Nilton Figueiredo e quando o grupo de Maria Rego-Fabricio Torquato passou a apoiar o projeto de gestão de Leonardo Rego, terminou por enfraquecer o grupo político adversário, no caso, Nilton Figueiredo).

MH - Aliança política que não havia dado certo nas urnas numa campanha para governador em 2006, se repetiu em 2008, tendo Leonardo Rego candidato a prefeito e Fabrício Torquato como candidato a vice-prefeito e era disputa foi vitoriosa?

FT – Ganhamos como vice-prefeito. Aí assumir a Secretaria de Saúde e passei a fazer um trabalho bem firme mesmo. Eu disse ao meu parceiro da época que tomasse conta lá da Prefeitura que eu ia gerenciar saúde com o mesmo olhar como se fosse ele também. Então conseguimos avançar bastante neste aspecto.

MH – Você terminou expulso do PMDB e ingressou no DEM?

FT - Eu fui expulso do PMDB em 2011 e fui fiz minha filiação no DEM e fui candidato em 2012 pelo DEM. Vencemos.

MH – Como foi a campanha de 2012 contra Bráulio, do PMDB, no caso, candidato do grupo político de Nilton Figueiredo?

FT – Tivemos uma grande vitória em 2012, foram 1 807 votos de maioria. Eu atribuo esta vitória a questão administrativa e a parceria política vitoriosa que veio a ser revelar no período de 2006 a 2012. No início o eleitor não concordou, mas depois com o trabalho que foi feito, soube reconhecer. Eu também fiz uma campanha de uma forma sem agressão pessoal, sem esculhambação e eles adoram irem para os palanques chamarem adversários de bandidos, de Fernandinho Beira Mar, e etc. Eu não acho que meus adversários sejam meus inimigos. Eu sempre tive uma relação de respeito ao Bráulio, ao Nilton Figueiredo e a todos os outros. E isto me ajudou com certeza na conquista de apoio de eleitores para vencer. E também minha candidatura era leve, não tinha rejeição e consegui absorver muitos votos adversários. Isto foi determinante.

MH - Como tem sido sua gestão a partir de 1º de janeiro de 2013?

FT – Naquele tempo já se colocava uma crise financeira chegando e nem tínhamos como imaginar que fosse tão grave como se revela hoje. A crise hídrica também já dava sinais que ia ser grave, pois a barragem estava com apenas 30% de sua capacidade total de armazenamento que é de 56 milhões de metros cúbicos de água. Havia perspectiva real que um dia ela secasse.  Começamos 2013, é... foi um ano bem melhor. Chegamos a setembro com R$ 700 mil em caixa para fazer a festa e não penalizar os outros setores. Em 2014, continuamos a questão de prioridades de gestão.

MH – Quais prioridades, prefeito?

FT – Olha, Cézar Alves, o que eu acho mais bacana na minha gestão como prefeito a gente já ter conseguido caminhar em investimentos na área de saúde. Por exemplo: entregamos este ano duas unidades básicas de saúde. São 12 unidades. Sendo que destas 12, entregamos duas novas este ano e temos outras duas para entregar novas. E conseguimos parceria federal para fazer o prédio e a compra de equipamentos e manutenção é tudo com recursos próprios. Estamos tirando as unidades de casas alugadas, com estrutura totalmente troncha, e gente comprou terreno, colocamos em local próprio, com estrutura adequada e climatizadas. Uma beleza.

MH – A folha de pagamento é sempre uma peso pesado nas contas de todas as prefeituras. Ao menos é o que escutamos dos prefeitos. Pau dos Ferros instituiu o Plano de Cargo e Carreira e Salários dos Servidores para o magistério. Como foi possível?

FT – Implementamos o Plano de Carreira e Salário do Magistério em 2014 e isto onerou a folha em mais de R$ 150 mil reais, porque entendemos que isto é investimento na importância que tem. E isto não afetou o dia a dia de pagamentos da Prefeitura de Pau dos Ferros aos fornecedores e etc. Contratamos muitos apenas para comprar o material, pois temos o servidor e este recebe a missão de fazer o serviço nas ruas. Compramos o material e nós mesmos fazemos. Existe um esforço para fazer os recursos do município dá cria.

MH - Destaque algo realmente forte, que seja a marca de gestão de Fabrício Torquato a frente da Prefeitura de Pau dos Ferros?

FT – É uma obra que para muitos pode até não ser importante, mas para mim é muito importante. É minha marca. É a questão da adimplência de minha gestão, da minha regularidade fiscal, não atrasar previdência. Quando Leonardo Rego foi prefeito, ele fez uma compensação da Previdência. Ele passou mais de 30 meses sem pagar a Previdência, que hoje é da ordem de 450 mil reais. Isto gerou um problema muito sério, grave em Mossoró. Hoje, a Prefeitura de Pau dos Ferros já está sendo comprado em mais de R$ 20 milhões. Depois daquela operação Zelotes, ficou meio parado, mas acho que vai ter desdobramentos. Não é fácil, com esta crise, esta pindaíba financeira, manter parcelamentos em dia, pagar previdência, parcelamento de precatórios, garantir salários em dia, manter os serviços funcionando... Eu pago todo dia 30, hoje já caiu o FPM, e teve um desconto de R$ 125 mil só em precatórios.

MH – Sobre precatórios. É de conhecimento público que Pau dos Ferros tem uma das maiores dívidas de precatórios em se comparado por número de habitantes entre os municípios do Rio Grande do Norte. O sr. negociou?

FT – Era o maior débito que tinha em todo o Estado do Rio Grande do Norte. Já havia sido parcelado antes valores de R$ 80 e R$ 90 mil, numa negociação que os juros cobriam. Ou seja, não se pagava nunca. Era um rombo. Daí pegamos esta dívida toda, sentamos com os técnicos, avaliamos e renegociamos junto a Justiça. Não foi fácil gerar uma parcela para tantos anos seguidos no valor de R$ 125 mil reais por mês. Para se ter uma ideia, uma Unidade Básica de Saúde destas que construímos, custa em média R$ 320 mil. Ou seja, de 3 em 3 meses pagamos uma unidade básica de saúde só em precatórios. Faz falta no município. Não gostamos deste pepino, mas isto é gerência, esta foi a missão que recebi quando foi eleito. Precisa pagar. Negociamos em 100 meses, com parcelas de R$ 125 mil. Quando terminar, o município vai está totalmente zerado na maior dívida que ele tinha. Fácil não é. Mas gerenciamos isto. Então, nesta questão de adimplência, se você olhar no Serviço Auxiliar de Informações para Transferências Voluntárias (CAUC), no Governo Federal, vai ver verdin lá de A a Z. Isto é uma ação, meu amigo, que demanda zelo, uma responsabilidade muito grande ao mesmo tempo que se dá conta da educação, saúde e as obras que estamos fazendo.

MH - Pau dos Ferros tem cerca de 30 mil habitantes. Polariza outros 36 municípios da região. Em função dos Campi da UERN, UFERSA e IFRN, além de serviços de saúde, comércio e bancário, termina por receber por dobrar seu número de habitantes. Isto traz despesas extras ao município, especialmente no serviço de saúde, onde o município de Pau dos Ferros, faz o serviço do cidadão que mora na cidade do lado e não recebe a compensação do SUS. Como está gerenciando esta questão?

FT – O SUS pago R$ 11 reais por uma consulta. Não dá. As prefeituras são obrigadas a complementar. Pau dos Ferros não é diferente. Sofre, mas tem que pagar. Pagamos o plus, não somente dos serviços prestados à população de Pau dos Ferros, mas como você bem lembrou, a também dos moradores de cidades vizinhas, o que não tem compensação nenhuma do SUS para Pau dos Ferros. Vou citar um exemplo que mesmo pactuando o serviço, ainda assim é Pau dos Ferros que paga a compra. Água nova pactua umas consultas cardiológicas para Pau dos Ferros. Ou seja, por cada consulta, o SUS destina R$ 11 reais. Porém, a gente paga em média R$ 50 reais. Não tudo, mas parte desta demanda de investimento em saúde para a região, a gente banca com nossos recursos. Entendemos que Pau dos Ferros não é uma ilha, ignorando a presença dos municípios vizinhos e seus habitantes. É uma contrapartida nossa em exames de imagem, exames laboratoriais, consultas especializadas, entre outras especialidades que complementamos para atender não só Pau dos Ferros, mas toda a região. Se não fizer isto, acaba furando cartão SUS, gerando um prejuízo ainda pior. A manutenção da saúde tem um custo alto. Eu estou com uma UPA lá, Cezar Alves, que uma equipe do Ministério da Saúde esteve lá vistoriando. Ela foi construída desde ano passado, está pronta para receber os equipamentos e começar a funcionar. Eu tive com Fátima Bezerra, com o governador Robinson, com o deputado Fábio, com a turma toda, em fevereiro com o ministro Chioro, cobrando o envio de mais ou menos R$ 1 milhão de reais em equipamentos, já com pareceres aprovados pelo Ministério. A gente como gestor havia comemorado a notícia das emendas positivas. Agora as emendas vão vir. Aí tivemos uma tristeza danada nesta reunião com o Ministro da Saúde. Aqueles recursos que estavam sendo repassados aos municípios fundo a fundo, de fácil manutenção, sem interferência de deputados ou senadores, agora migrou para estas emendas parlamentares impositivas. Ou seja, agora para liberar o que antes era fácil, vamos ter que sair de gabinete em gabinete em Brasília passando o “pires”. O próprio ministro colocou que eu só ia conseguir a liberação destes recursos para comprar os equipamentos da UPA se eu botasse meu “pires” na mão e fosse de deputado em deputado para liberar os recursos. Isto é muito mais traumático, demorado, triste. Nos deu muita preocupação. Porque não nos deu uma perspectiva de quando haverá liberação destes recursos para licitar e comprar estes equipamentos necessários a UPA de Pau dos Ferros.

MH – Os municípios da região tem conversado com o senhor, para dividir os custos da saúde, com o SAMU, por exemplo?

...Nós engrossamos nosso cangote na questão do custeio do SAMU...

“Não é justo Pau dos Ferros pagar este serviços para todos os municípios da região”

MH - Se por acaso o senhor passar o “pires” e consegui a liberação destas emendas impositivas e comprar os equipamentos, com que recursos vai manter esta unidade funcionando?

FT - Não vejo a hora que ela abra, mas eu sou muito ponderado. Ela foi uma UPA porte tipo I que conseguimos em 2009 que hoje o custeio dela, como é qualificada, são R$ 175 mil e antes era R$ 100 mil, com um custeio real de R$ 175 mil, Cezar Alves, eu não vou ter como abrir esta UPA. A gente gasta nela hoje alto em torno de 400 mil, beirando meio milhão. Qual a garantia que eu vou ter tripartite (custeio pela União, Estado e Município) para manter funcionando? Eu preciso saber quanto nós vamos gastar, mas eu preciso clareza do Estado e União para definir isto. Porque se for abri esta UPA sem definir os repasses da União, do Estado e municípios, em um mês ou dois quebra o município. Então tem que ter esta responsabilidade de ofertar o serviço, mas com a garantia de saber quem são os municípios vizinhos que vão pactuar (ajudar no custeio) e qual aporte financeiro destes municípios e do nosso. Principalmente, volto a lembrar, vamos querer saber e precisamos saber qual valor que os governos do Estado e Federal vão repassar.

MH - Estávamos falando sobre o custeio da saúde, que é alto. E a educação também tem um custeio muito alto, enfim toda a máquina administrativa é um caro. Com as medidas do Governo Federal para reduzir o impacto da crise financeira municipal no Brasil, terminou por reduzir o IPI de vários produtos. O IPI é uma das fontes do FPM, que obviamente caiu. Se o Pacto Federativo aprovado permitiria a sobrevivência dos municípios?

FT – "... É necessário demais. Sem isto a gente tá frito..."

...Brasília tá tão cruel, tá uma esculhambação grande. A crise econômica que nós vivemos, na minha concepção, é completamente fruto, desta crise política que vivemos...

...“Se os políticos olhassem para o umbigo e pensasse no país como um todo, em seis meses a gente sairia da crise”...

MH – Então, como o senhor está fazendo para administrar uma cidade de 30 mil habitantes e outros 30 mil de outras cidades circulando no município todo dia?

FT – Sabe ao que eu atribuo isto (abastecer Pau dos Ferros)? Ao planejamento como te disse, ao pé chão e a zelo sabendo que nada escoa pelo ralo. Acho que é basicamente por isto que a gente consegue dá conta. Para eu pagar a folha deste mês agora tive que segurar os fornecedores por 15 ou 20 dias para ter a garantia que ia pagar aos servidores. Sei que é crítico, pois o mês seguinte já não sei como vamos fazer. Mas vamos fazer. Entender, como é difícil? Temos que ir cortando gastos. Um pouco aqui e um pouco alí. A gente gasta o que é estritamente necessário, claro que com a saúde nós ainda não tivemos nenhuma medida de corte. Quanto a bancar procedimentos para particulares é uma coisa que para a gente é muito complicado, pois tem cirurgias, por exemplo as nefrológicas, que bancamos para ser feita em Mossoró, que custa até R$ 7 mil reais, a pessoa procura você já quase morrendo, tem a dificuldade para consegui isto pela rede e a gente finda fazendo isto. Então, num bote a regra e compasso na mão para você ver se consegue fazer funcionar um município do porte de Pau dos Ferros com saúde, educação, segurança e outros setores funcionando?

MH – O Rio Grande do Norte, assim como outros estados do Nordeste enfrenta uma das maiores secas de sua existência. Reservatórios de grande porte, como a Barragem Armando Ribeiro Gonçalves e Santa Cruz já estão com menos de 30% de suas capacidades. Gargalheiras e Itans, em Acari e Caicó, não tem água para mais um mês para abastecer as cidades. Barragem de Pau dos Ferros está no limite. Secou. De onde está tirando água para abastecer Pau dos Ferros?

"... Tem rodízio de abastecimento na cidade que os bairros ficam em média de 10 a 12 dias sem água.."

"...Instalamos 23 caixas d’água em setores estratégico da cidade... ... estamos dotando a cidade com 20 ou 30 poços..."

MH – Prefeito, o senhor acompanhou pessoalmente, vivenciou todo o crescimento econômico e social do município de Pau dos Ferros nos últimos 10 anos. Acredito que vai concordar comigo que a chegada dos Campi da UFERSA, do IFRN e o crescimento do Campus da UERN, que hoje tem até Doutorado, foi uma mola propulsora e continua sendo, não só para Pau dos Ferros, mas para toda a região Oeste do Rio Grande do Norte. Fale um pouco da importância destas instituições de ensino para o povo de Pau dos Ferros...

FT – Eu considero isto a principal mola propulsora sim de Pau dos Ferros, Cezar Alves. A UERN já está há décadas. Hoje tem Doutorado em Pau dos Ferros. Quase toda nossa rede municipal já passou por qualificação ofertado pela UERN. Ou seja, a UERN não só forma gente e botar no mercado de trabalho. A UERN qualifica nossos professores e isto tem sido de uma importância gigantesca para o crescimento da educação municipal. Nós temos o IFRN e temos também a UFERSA. Eu sempre brinco com o professor Alex, que é um cara muito bacana, que a UFERSA é nosso primo rico, porque é uma universidade federal. Nós já temos lá em Pau dos Ferros cursos de Engenharia Civil, está começando Arquitetura, vai ter Tecnologia da Informação e Desenvolvimento de Software. Veja que coisa bacana. Então, como polo universitário que nós já somos, quando eu vislumbro está próxima década pelas três instituições, eu acho que vai ser muito bom, muito promissor, nem eu consigo visualizar o alcance deste benefício, o ganho real para Pau dos Ferros daqui há dez anos.

MH - Com a chegada do polo educacional, já tem a questão bancária, o comércio já instalado, serviços de saúde sendo ampliados, o senhor acredita que Pau dos Ferros hoje trilha o mesmo caminho que Mossoró na década de oitenta em termos de crescimento?

FT - Acho que é este caminho. Trilhamos neste mesmo caminho. Vejo muitas semelhanças de Mossoró no passado com Pau dos Ferros de hoje. Hoje já temos alunos gaúchos, alunos do Piaui no Campus da UFERSA. Temos gente de toda a parte.

MH - Como está sendo este crescimento. Está sendo feito um plano diretor, para evitar que Pau dos Ferros do Futuro não enfrente os problemas de mobilidade que Mossoró enfrenta hoje?

FT - É um negócio muito interessante. Estamos desenvolvendo agora o Plano Diretor que desde 2013 que eu sonhava em conseguir recursos para fazê-lo, algo em torno de R$ 300 mil. Ano passado mantemos contato com a UFERSA, por ser federal, conseguiu rapidamente estes recursos e hoje estamos fazendo o Plano Diretor em parceria com a UFERSA. Eles têm mais de 50 profissionais envolvidos neste trabalho. Daqui pra dezembro a gente quer finalizar. É outro salto importantíssimo que Pau dos Ferros vai ter. O Plano Diretor é uma das três prioridades da minha gestão. A gente já está bem encaminhado neste sentido e sendo feito por uma instituição como a UFERSA.

MH - Quais as outras duas prioridades?

FT - O zelo gerencial e a saúde/SUS. Não quero aqui desmerecer as outras áreas. Fizemos concurso para mais de 240 novos servidores, que vai qualificar as outras áreas também, não só a saúde.

MH - Era um sonho seu ser político desde o seis anos. Ser prefeito de Pau dos Ferros, talvez nem tanto. Porém terminou prefeito e num período de crise econômica e hídrica. Chegar a Prefeitura numa época tão crítica como esta lhe frustrou? Esperava algo mais fácil?

FT - Nós começamos a falando aqui, se eu achava que ia ser politico. Desde sempre eu tive esta vontade, mas nunca imaginei ser o prefeito numa região e numa época de pindaíba financeira que estamos vivendo. Nunca imaginava ser o primeiro prefeito de Pau dos Ferros a lidar com a barragem de Pau dos Ferros completamente seca. É a primeira vez que ela seca e está seca desde dezembro. Então, isto aumenta muita minha responsabilidade, pois não podemos entender Pau dos Ferros não como uma ilha, mas como uma cidade de forte influência regional. A gente tem 30 mil habitantes, mas a movimentação por dia em Pau dos Ferros é de 60 mil. São pessoas do Rio Grande do Norte, mas também de outros estados que vem comprar serviços nos bancos, saúde, educação... Eu nunca olho Pau dos Ferros como se fosse uma ilha. Não adianta nada ter Pau dos Ferros como uma ilha de excelência e os vizinhos todos lascados. Os tempos difíceis termina por estimular o gestor a ser mais criativo para tentar tirar leite de pedra, de procurar medidas, as vezes simples, até artesanais, para tentar diminuir custos. Planejamos algo, o dinheiro é curto, precisa estabelecer prioridades.

MH – Para encerrar, prefeito, o município de Pau dos Ferros, apesar da crise, da falta de água, prepara uma grande festa, a Finecap. Fale sobre este evento, como conseguiu recursos para fazer esta festa pública gratuita?

“...Por conta da Finecap, circula na cidade de R$6 a R$ 8 milhões”...

“...O benefício para a cidade compensa, numa escala, de pelo menos dez vezes”...

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